Poesia ausente

por Lequinho Maniezo

As paredes do meu quarto suam e se derretem no frio

Abstinência

Por debaixo das unhas do passado recente existe a sujeira do gesso

Arrancado com sangue do tempo instransponível

Que crescendo sua parede transborda de mim químicos indesejáveis

 

Já é segunda outra vez, há 41 semanas

Silencio paira entre a neblina em fila indiana

Silencio! Ouça o que fala o segundo entre a sineta do trem

E o pulo campeão olímpico, para os trilhos e as pedras.

Eu não te vejo mais desde que fechei os olhos

 

Sua quadrela desbotou e correu até mofar dentro

E na experiência alheia apareceu o voto opositor de culpa

Em que me fuzilavam caracteres perniciosos e não ditos

Mas alguém falou de brilho

De trem

De Deus

De Mariano

De profecia

 

Eu te vejo! disse ele

e que alguém mais via

Veja! Nosso calor não alcançou o chão onde os outros dormiam

invisível

 

As luzes do estádio ascenderam do chão e focaram no centro

Num lance subiu aos céus um globo de vidro iluminado pelo astro

E era ali mais uma pessoa na linha azul

Ao invés de ser mais um lugar ocupado

 

Silencio sobrou

Já faz 41 semanas